Série: Superior
Atividade: Apontamentos de Livro
CONDIÇÃO PÓS-MODERNA
– David Harvey
Parte II - A
Transformação político-econômica do capitalismo do final do século XX
Quais transformações capitalistas ocorriam no final
do século XX, em termos econômicos, geopolíticos e sociais? Se a acumulação de
capital é uma das finalidades do capitalismo, como esse modo econômico e social
modificou-se durante este período de transformações do século XX? Mesmo com
toda a dinâmica e surpresas capitalistas, este sistema tem como propensão o
caos, crises? Estas são algumas minhas indagações para refletirmos a partir da
leitura desta parte do livro Condição Pós-Moderna (Harvey, 1998).
O recorte temporal deste contexto é um período de
incertezas, que ultrapassa antigos modelos produtivos e tende a novos modos de
produção, trabalho e consumo. Inicialmente, do término da Segunda Guerra
Mundial (1945), o mundo pós-guerras desencadeou profundas transformações
político-econômicas do capitalismo. O equilíbrio de poder prevalecia entre o
trabalho organizado, capital corporativo e o Estado. Os Estados Unidos nesse
período encontram-se fortalecidos em termos produtivos e militares. A Europa
Ocidental que vem se reerguendo, recebe ajuda com o Plano Marshall, assim como
o Japão, ambos com auxílio e investimentos estadunidenses.
Enquanto no final do século XIX fusões marcavam um
capital monopolista, o século XX firmava-se o capital corporativo.
Este período, em outras fontes, também é chamado de
Capitalismo Industrial ou Segunda Revolução Industrial. A produção de carros,
construção de navios, produtos petroquímicos, o aço, borracha tornavam-se
propulsores do crescimento econômico.
Dentro das indústrias automobilísticas, Henry Ford
racionaliza velhas tecnologias, de divisão do trabalho, tarefas repetitivas,
trabalhador em posição fixa. As ideias administrativas de Taylor acrescentam ao
modelo fordista, o método de separação de gerência, concepção, controle e
execução. Desta forma, o trabalho é pensado por uns e executado por outros,
estes últimos cada vez mais alienados, explorados, rotinizados e entediados.
Tanto que movimentos sindicalistas se fortalecem em paralelo ao aumento da
produção. Em 1914, Henry Ford para atrair os trabalhadores vem com a recompensa
de cinco dólares por oito horas de trabalho (em vez de dez horas), marco considerado
do início do fordismo. Algo que me chamou a atenção no texto, foi a percepção
fordista para aumentar consumo: pois segundo Ford era necessário dar tempo e
lazer para os trabalhadores, e estes tinham que saber gastar esta renda, daí
investindo também em assistência social para um consumo prudente e racional.
Alguns entraves para o desenvolvimento do fordismo
constava nesses períodos entre guerras, falta de habilidade na rotina do
trabalhador e controle do processo produtivo. Nas fábricas de Ford havia um
aproveitamento de mão de obra de imigrantes, enquanto os americanos
hostilizavam essa forma de produção. A centralização do capital, economias de
escala mediante a padronização do produto também refreavam a competição
intercapitalista.
O Liberalismo econômico que vivia-se intensamente,
marcado pelo livre comércio, oferta e procura, o mercado se auto-regulando,
viu-se abalado principalmente com a Crise de 1929, quebra na bolsa de valores
de Nova Iorque, seguiu com o período da Grande Depressão, e depois com outras
crises como a Crise de 1973, do preço do petróleo.
O New Deal, política do novo acordo, de Roosevelt
fez-se necessário para salvar o capitalismo. Assim a presença do Estado foi
pensada e cobrada, com o Keynesianismo. O controle dos ciclos econômicos foi
combinado com o aumento dos padrões de vida (pelo menos de poder aquisitivo) e
pela política de bem estar social, controle de relações de salário.
As reações trabalhistas, movimentos de minorias,
como mulheres, crianças e de desprivilegiados aumentavam. Uma cultura
internacional se espalhava diante do massacre de culturas locais do Terceiro
Mundo.
O modelo fordista rescindia-se e não dava mais
conta das novas necessidades capitalistas no final do século XX. Por
conseguinte não houve ruptura, e sim uma transição da ‘produção em massa’ e
‘consumo em massa’, do modernismo fordista (‘acumulação rígida’) para o pós-modernimo
toyotista (chamado por Harvey de ‘acumulação flexível’), pelo efêmero, o diferente,
a novidade, a moda e a mercadificação de suas formas culturais.
Algumas características da acumulação flexível:
flexibilização dos processos de trabalho, necessidades específicas de cada
empresa, mobilidade geográfica, pequena escala, tempo de giro (Just-in-time), ‘desregulamentação’,
informações precisas do mercado, capital financeiro. Um modelo produtivo
adaptado às novas demandas capitalistas e modelo econômico neoliberal.
Contudo, percebe-se no trabalho de Harvey uma
análise minuciosa de fatos que marcaram o século XX, dados econômicos e
movimentos sociais que refletiam mudanças nos processos produtivos. Diante
destas instabilidades o capitalismo teve que se reafirmar e logo se mobilizar
para continuar soberano. Destaco ainda a reafirmação de Harvey das ideias de
Marx sobre a inconsistência e contradições capitalistas, que possui uma
propensão a crises.
É interessante também a análise de Harvey da
‘compressão do espaço-tempo’ no mundo capitalista. Determinado a passar por
momentos de superacumulação e outros de crises.
Neste sentido observamos elementos que culminaram
nas transformações do final do século XX, complementados pelas mudanças
produtivas de capital, da rigidez à flexibilidade capitalista.
Referência:
HARVEY, David. Condição
pós-moderna: Uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 7ª Ed. São
Paulo: Edições Loyola, 1998. Parte II, p. 115-184.
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