Série: Superior
Atividade: Apontamentos de Livro
Infoproletários: degradação real do trabalho
virtual – Ricardo Antunes e Ruy Braga (Orgs.)
Capítulo 1: O trabalho do
conhecimento na sociedade da informação: a análise dos programadores de
software - Juan José Castillo
Capítulo 2: A construção de um
cibertariado? Trabalho virtual num mundo real - Ursula Huws
Nesta obra organizada por Ricardo Antunes e Ruy
Braga (2009) percebe-se pela leitura inicial, apresentação do livro e nos dois
primeiros capítulos, uma reflexão sobre as condições de trabalho na ‘Sociedade
da Informação’, na ‘Nova Economia’ após 1990, onde o advento das novas
tecnologias descaracteriza e segmenta o
trabalho vivo. Tanto que a Divisão Internacional do Trabalho e a Divisão Social
do Trabalho são centrais nas discussões que seguem nas primeiras partes da
obra, respectivamente.
A Divisão Internacional
do Trabalho acompanha as relações comerciais e desiguais entre grupos distintos
de países ao longo do processo histórico. Os países que colonizaram outras
áreas do planeta (metrópoles), acumularam riqueza pela exploração dos recursos
naturais e escravização dos nativos, e o que permitiu que se industrializassem
primeiro, tornanram-se os países centrais (desenvolvidos) da ordem econômica
atual. Os países que foram colônias de exploração, tiveram suas atividades
econômicas sempre voltadas ao mercado externo, o que gerou sua dependência
econômica, e os tornaram periféricos nas relações econômicas mundiais
(subdesenvolvidos).
A Nova Divisão do Trabalho vem das mudanças ocorridas
nos países periféricos, em especial um grupo de países em desenvolvimento, que
se industrializaram, com interesse é claro e tecnologia dos países centrais, e
destacam-se pelo grande mercado consumidor interno e pela numerosa mão de obra
barata, como menciona Juan José Castilho baseado na obra de Salim Lakha: “Essa Nova Divisão Internacional do Trabalho
se caracterizava por uma fragmentação dos processos manufatureiros que se
dispersaram globalmente, perseguindo ou motivados pela necessidade de trabalho
barato, desqualificado ou semiqualificado” (p.26).
A Divisão Social do Trabalho, segundo Ursula Huws,
acontece uma especialização do trabalho de acordo com a classe social, etnias
ou grupos social e por gênero. O que dificulta na ‘determinação da identidade de classe’ (p.58).
Neste sentido, novos rearranjos surgem e
descaracterização das empresas e do trabalho, como terceirizações, e
‘integração vertical’. Nesses novos rearranjos trabalhistas, as inovações
tecnológicas e novas formas produtivas capitalistas (pós-fordistas) coloca ‘fim na centralidade do trabalho’ e
recoloca novos rearranjos espaciais. Contexto este, chamado de ‘Informacionalismo’ por Castells,
caracterizado por empregos qualificados, autonomia e criatividade, e até
sinônimo de ‘não trabalho’. Essa imaterialidade é importante diante da
crise no capitalismo, marcada pela descaracterização do trabalhador, na perda
do ‘valor trabalho’ e ‘capital humano’, ‘trabalho abstrato’(p.7-9).
Uma das formas de trabalho aprofundadas neste
contexto é no setor de telemarketing, call
Center, programadores de software.
Contradições presentes nesses setores, como o nível tecnológico, flexibilidade
toyotizada, técnicas gerenciais tayloristas de controle sobre o trabalhador, considerada
a alienação contemporânea do trabalho (p.10).
O marxismo crítico é presente nesta obra, através
de conceitos-chave de Karl Marx e sua análise sobre as contradições do
capitalismo. A consideração do proletariado apenas aquele que produz
diretamente a mais-valia, não é aplicável aos ‘trabalhadores virtuais’. Os
‘trabalhadores comerciais’ contribuem na produção de mais-valia na medida de
seu trabalho é apropriado por seu empregador. O computador não seria
considerado meio de produção pois seu uso depende de um sistema em rede.
No primeiro capítulo uma relação é feita entre
qualidade, controle e padronização. À medida que certificações de qualidade (ISO,
Spice e CMMI) são criadas e exigidas internacionalmente há uma uniformização
dos procedimentos produtivos, assim como a tendência de homogeneização da
globalização (cultural, econômica e política), e uma nova e forte forma de
controle é estabelecida.
Diante disso, Castilho detalha a fundamentação
utilizada na sua pesquisa sobre ‘fábricas
de software’ e como que estas tornam o trabalho cada vez mais coletivo e
disperso. A Nova Divisão Internacional do Trabalho confirma suas ideias e
complementa fatos trazidos por outros autores como já discutidos na disciplina,
baseado na externalização do trabalho qualificado e desqualificado, do trabalho
imaterial, de tarefas que antes eram apenas realizadas nos países centrais. O
salário é comparado e visivelmente diferente entre um trabalhador nos Estados
Unidos e um outro na Índia. Assim como também há divergências na formação
acadêmica, na atuação do governo, regiões potenciais. Dessa forma a qualidade
exigida camufla procedimentos padrões que os países periféricos tem que
atender, e que por consequência reforçam as desigualdades inerentes. A questão
do controle na criação de software também é comprometido pois só podem serem
verificadas quando tudo estiver instalado e funcionando.
No segundo capítulo há uma busca por termos
adequados sobre os trabalhadores em sistemas virtuais de produção, e que por
consequência reforça a discussão dessa classe, que não tem definição, objetivos
comuns a serem lutados, discutidos e exigidos.
Desta forma, Ursula Huws trabalha com tipos
específicos, como ‘trabalho de escritório’, ‘trabalhadores de informação’, e de
que forma esses são diferentes em termos de gênero e classe social. Ao mesmo
tempo que são operários e consumidores. A questão da mobilidade social também é
presente, e a autora dá exemplos ocorridos pós-Segunda Guerra Mundial no Reino
Unido com a política de bem estar social, e na possibilidade de mulheres casarem
com homens de outro nível social como vias de ascensão social. O escritório e o
papel da mulher no mundo do trabalho também são centrais nesta parte do texto,
para isso compara o ‘secretário do lar’ com a governanta; a secretária do
escritório e a sua desnecessidade no mundo da informação. Assim como questiona
o trabalho doméstico sendo uma nova forma de exploração do trabalhador e de
seus bens como meios de produção. Formas anárquicas é como considera a
sabotagem, contaminação por vírus nessa nova realidade produtiva.
Uma bom exemplo ao longo do texto que se faz
comprovando a Divisão Internacional do Trabalho é colocado: ‘os bons trabalhos que podem ser deslocados
dos países centrais se mantêm e se estabelecem como bons trabalhos na
periferia’ (p.25). Ao passo que atividades antes realizadas por
trabalhadores não qualificados nos países centrais, passa a ser feito por
trabalhadores graduados nos países periféricos.
A efeito de prévias
considerações percebe-se pelos autores a necessidade de se aproximar a
comunidade do conhecimento, a identidade e sentimento de classe, fortalecimento
da carreira profissional, e reflexões sobre as desigualdades nas relações
econômicas mundiais. Considerando o fato de ter uma moradia, ou necessidades
básicas, conforta e neutraliza os trabalhadores, e seus movimentos de greve.
As tendências
educacionais parecem sem perspectivas (p.50). E um questionamento me parece de
forma paralela à essas indagações sobre a virtualização, segregação e
espacialização no mundo do trabalho atual: que escola temos nos países centrais
e periféricos? Que tipo de educação se faz necessária diante a divisão do
trabalho colocada (social, espacial, internacional, tecnológica, econômica,
classes, gênero, grupos sociais)? Quais as reais necessidades educacionais nos
países em desenvolvimento, como no Brasil, para a superação dessa Divisão
Internacional do Trabalho?
Referência:
ANTUNES, R. e BRAGA, R. Infoproletários:
degradação real do trabalho virtual. São Paulo: Boitempo, 2009.
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