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domingo, 25 de agosto de 2013

Apontamentos: Infoproletários

Conteúdo: Infoproletários
Série: Superior
Atividade: Apontamentos de Livro

Infoproletários: degradação real do trabalho virtual Ricardo Antunes e Ruy Braga (Orgs.)
Capítulo 1: O trabalho do conhecimento na sociedade da informação: a análise dos programadores de software - Juan José Castillo
Capítulo 2: A construção de um cibertariado? Trabalho virtual num mundo real - Ursula Huws

            Nesta obra organizada por Ricardo Antunes e Ruy Braga (2009) percebe-se pela leitura inicial, apresentação do livro e nos dois primeiros capítulos, uma reflexão sobre as condições de trabalho na ‘Sociedade da Informação’, na ‘Nova Economia’ após 1990, onde o advento das novas tecnologias  descaracteriza e segmenta o trabalho vivo. Tanto que a Divisão Internacional do Trabalho e a Divisão Social do Trabalho são centrais nas discussões que seguem nas primeiras partes da obra, respectivamente.
            A Divisão Internacional do Trabalho acompanha as relações comerciais e desiguais entre grupos distintos de países ao longo do processo histórico. Os países que colonizaram outras áreas do planeta (metrópoles), acumularam riqueza pela exploração dos recursos naturais e escravização dos nativos, e o que permitiu que se industrializassem primeiro, tornanram-se os países centrais (desenvolvidos) da ordem econômica atual. Os países que foram colônias de exploração, tiveram suas atividades econômicas sempre voltadas ao mercado externo, o que gerou sua dependência econômica, e os tornaram periféricos nas relações econômicas mundiais (subdesenvolvidos).
A Nova Divisão do Trabalho vem das mudanças ocorridas nos países periféricos, em especial um grupo de países em desenvolvimento, que se industrializaram, com interesse é claro e tecnologia dos países centrais, e destacam-se pelo grande mercado consumidor interno e pela numerosa mão de obra barata, como menciona Juan José Castilho baseado na obra de Salim Lakha: “Essa Nova Divisão Internacional do Trabalho se caracterizava por uma fragmentação dos processos manufatureiros que se dispersaram globalmente, perseguindo ou motivados pela necessidade de trabalho barato, desqualificado ou semiqualificado” (p.26).
A Divisão Social do Trabalho, segundo Ursula Huws, acontece uma especialização do trabalho de acordo com a classe social, etnias ou grupos social e por gênero. O que dificulta na ‘determinação da identidade de classe’ (p.58).
Neste sentido, novos rearranjos surgem e descaracterização das empresas e do trabalho, como terceirizações, e ‘integração vertical’. Nesses novos rearranjos trabalhistas, as inovações tecnológicas e novas formas produtivas capitalistas (pós-fordistas) coloca ‘fim na centralidade do trabalho’ e recoloca novos rearranjos espaciais. Contexto este, chamado de ‘Informacionalismo’ por Castells, caracterizado por empregos qualificados, autonomia e criatividade, e até sinônimo de ‘não trabalho’. Essa imaterialidade é importante diante da crise no capitalismo, marcada pela descaracterização do trabalhador, na perda do ‘valor trabalho’ e ‘capital humano’, ‘trabalho abstrato’(p.7-9).
Uma das formas de trabalho aprofundadas neste contexto é no setor de telemarketing, call Center, programadores de software. Contradições presentes nesses setores, como o nível tecnológico, flexibilidade toyotizada, técnicas gerenciais tayloristas de controle sobre o trabalhador, considerada a alienação contemporânea do trabalho (p.10).
O marxismo crítico é presente nesta obra, através de conceitos-chave de Karl Marx e sua análise sobre as contradições do capitalismo. A consideração do proletariado apenas aquele que produz diretamente a mais-valia, não é aplicável aos ‘trabalhadores virtuais’. Os ‘trabalhadores comerciais’ contribuem na produção de mais-valia na medida de seu trabalho é apropriado por seu empregador. O computador não seria considerado meio de produção pois seu uso depende de um sistema em rede.
No primeiro capítulo uma relação é feita entre qualidade, controle e padronização. À medida que certificações de qualidade (ISO, Spice e CMMI) são criadas e exigidas internacionalmente há uma uniformização dos procedimentos produtivos, assim como a tendência de homogeneização da globalização (cultural, econômica e política), e uma nova e forte forma de controle é estabelecida.
Diante disso, Castilho detalha a fundamentação utilizada na sua pesquisa sobre ‘fábricas de software’ e como que estas tornam o trabalho cada vez mais coletivo e disperso. A Nova Divisão Internacional do Trabalho confirma suas ideias e complementa fatos trazidos por outros autores como já discutidos na disciplina, baseado na externalização do trabalho qualificado e desqualificado, do trabalho imaterial, de tarefas que antes eram apenas realizadas nos países centrais. O salário é comparado e visivelmente diferente entre um trabalhador nos Estados Unidos e um outro na Índia. Assim como também há divergências na formação acadêmica, na atuação do governo, regiões potenciais. Dessa forma a qualidade exigida camufla procedimentos padrões que os países periféricos tem que atender, e que por consequência reforçam as desigualdades inerentes. A questão do controle na criação de software também é comprometido pois só podem serem verificadas quando tudo estiver instalado e funcionando.
No segundo capítulo há uma busca por termos adequados sobre os trabalhadores em sistemas virtuais de produção, e que por consequência reforça a discussão dessa classe, que não tem definição, objetivos comuns a serem lutados, discutidos e exigidos.
Desta forma, Ursula Huws trabalha com tipos específicos, como ‘trabalho de escritório’, ‘trabalhadores de informação’, e de que forma esses são diferentes em termos de gênero e classe social. Ao mesmo tempo que são operários e consumidores. A questão da mobilidade social também é presente, e a autora dá exemplos ocorridos pós-Segunda Guerra Mundial no Reino Unido com a política de bem estar social, e na possibilidade de mulheres casarem com homens de outro nível social como vias de ascensão social. O escritório e o papel da mulher no mundo do trabalho também são centrais nesta parte do texto, para isso compara o ‘secretário do lar’ com a governanta; a secretária do escritório e a sua desnecessidade no mundo da informação. Assim como questiona o trabalho doméstico sendo uma nova forma de exploração do trabalhador e de seus bens como meios de produção. Formas anárquicas é como considera a sabotagem, contaminação por vírus nessa nova realidade produtiva.
Uma bom exemplo ao longo do texto que se faz comprovando a Divisão Internacional do Trabalho é colocado: ‘os bons trabalhos que podem ser deslocados dos países centrais se mantêm e se estabelecem como bons trabalhos na periferia’ (p.25). Ao passo que atividades antes realizadas por trabalhadores não qualificados nos países centrais, passa a ser feito por trabalhadores graduados nos países periféricos.
            A efeito de prévias considerações percebe-se pelos autores a necessidade de se aproximar a comunidade do conhecimento, a identidade e sentimento de classe, fortalecimento da carreira profissional, e reflexões sobre as desigualdades nas relações econômicas mundiais. Considerando o fato de ter uma moradia, ou necessidades básicas, conforta e neutraliza os trabalhadores, e seus movimentos de greve.
            As tendências educacionais parecem sem perspectivas (p.50). E um questionamento me parece de forma paralela à essas indagações sobre a virtualização, segregação e espacialização no mundo do trabalho atual: que escola temos nos países centrais e periféricos? Que tipo de educação se faz necessária diante a divisão do trabalho colocada (social, espacial, internacional, tecnológica, econômica, classes, gênero, grupos sociais)? Quais as reais necessidades educacionais nos países em desenvolvimento, como no Brasil, para a superação dessa Divisão Internacional do Trabalho?

Referência:

ANTUNES, R. e BRAGA, R. Infoproletários: degradação real do trabalho virtual. São Paulo: Boitempo, 2009.

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